Este texto foi extraído
do livro Umbanda Pé no Chão, de Norberto Peixoto
Umbanda Pé no Chão
Um guia de estudos
orientado pelo espírito Ramatís
PEIXOTO, Norberto 1ª
Edição – 2008
Editora do Conhecimento
Introdução
É impressionante como a
quantidade de leitores sedentos de esclarecimentos sobre a Umbanda cresce a
cada dia, sejam eles freqüentadores de centros espíritas kardecistas, de casas
universalistas, ou mesmo dos terreiros. Isso ocorre porque a Umbanda se
caracteriza como um movimento caritativo de inclusão espiritual que dissemina
as verdades universais com base no Evangelho de Jesus, sem se importar com a
raça, o status social ou a crença dos que a procuram em busca da caridade e do
consolo para seus males. Portanto, esclarecer, desmistificar conceitos
infundados, e fortalecer sua verdadeira identidade, livre de preconceitos
religiosos alimentados por uma absurda desinformação, é tarefa emergencial
providenciada pelo Alto neste ano em que se comemora o centenário de
institucionalização da Umbanda como religião brasileira – Fundada em Niterói em
1906.
Umbanda Pé no Chão vem
suprir o que faltava na literatura espiritualista, esclarecendo de forma muito
objetiva assuntos relacionados com os orixás (energias cósmicas, e não
espíritos que incorporam) e sua influência no psiquismo humano, os exus
(elemento deslocador de fluido cósmico entre os planos, e não entidade de
"chifres") e sua atuação como agentes de reajustamentos cármicos, as
formas de apresentação dos espíritos, a finalidade dos amacis e das ervas, os
florais e suas afinidades com os orixás, a magia como movimentação de energia
voltada para a caridade, além de preciosos detalhes sobre o desenvolvimento
mediúnico, as diferenças ritualísticas nos terreiros, a importância dos
condensadores energéticos, e uma abordagem inédita da presença da vibração dos
orixás nas passagens do Evangelho de Jesus. Sem sombra de dúvidas, este guia de
estudos contribuirá positivamente para que a Umbanda seja melhor compreendida e
praticada.
Umbanda
Pé no Chão Norberto Peixoto
Sobre
o autor
Norberto Peixoto nasceu
em Porto Lucena, estado do Rio Grande do Sul, no ano de 1963. Ainda criança,
viu-se diante do mediunismo por intermédio de seus pais, ativos trabalhadores
umbandistas. Sendo filho de militar, residiu no Rio de Janeiro até o final de
sua adolescência, onde teve a oportunidade de ser iniciado na umbanda, já aos
sete anos de idade. Aos onze, deparou-se com a mediunidade aflorada,
presenciando desdobramentos astrais noturnos com clarividência. Aos vinte e
oito, foi iniciado na Maçonaria, oportunidade em que teve acesso aos
conhecimentos espiritualistas, ocultos e esotéricos desta rica filosofia
multimilenar e universalista, que somente são propiciados pela freqüência
regular em Loja Maçônica estabelecida. Em 2000 concluiu sua educação mediúnica
sob a égide kardequiana, e atualmente desempenha tarefas como médium
trabalhador na Choupana do Caboclo Pery, em Porto Alegre, casa umbandista em
que é presidente-fundador.
Este sétimo livro,
Umbanda Pé no Chão, redigido de seu próprio punho por inspiração de Ramatís e
demais mentores espirituais que o acompanham, é um guia de estudos
esclarecedor, principalmente para médiuns que desejam ampliar seus
conhecimentos a fim de melhor praticar a caridade.
A
magia na umbanda:
As
dimensões física, etérica, astral e a movimentação mediúnica de energias entre
elas
Magia é movimentação de
energia pela aplicação da vontade e da força mental de um agente encarnado ou
desencarnado (ou ambos, em união de interesses), com a finalidade de criar
campos de forças magnéticos específicos (atração, defesa, retenção, repulsão).
Atraímos energias quando riscamos um ponto com essa finalidade e, ao mesmo
tempo, realizamos uma invocação.
Quando tocamos uma
sineta diante da tronqueira de exu (local onde é fixado vibratoriamente o
guardião do templo, geralmente à entrada e aos fundos do terreiro), nos
defendemos pedindo proteção e segurança. Da mesma forma, alguns atos magísticos
podem ter por objetivo a retenção de certas energias, como por exemplo: ao
acendermos uma vela para um determinado orixá no local vibrado dentro do
terreiro para essa finalidade específica, ou quando rogamos amor para Oxum ou
prosperidade para Iemanjá.
Temos de liberar o ato
magístico da conotação de misticismo fantástico, de mistério fenomênico, de
algo sobrenatural. Toda ação de magia se baseia em leis da natureza e delas não
se consegue prescindir. Umbanda é essencialmente magística e toda a sua magia
tem por finalidade o bem do próximo. É importante deixar bem claro que todo ato
de magia deve visar ao bem dentro da máxima evangélica de que "devemos
fazer ao nosso semelhante aquilo que desejamos a nós mesmos".
A aplicação prática da
magia se dá por meio de invocações, evocações, esconjuros, consagrações,
contagens, cânticos, mantras e outros recursos utilizados para facilitar a
concentração mental. Quanto mais unido for um grupo que objetiva praticar a
magia, mais coeso e força terá o ato magístico, embora um mago adestrado
consiga interferir em campos de energia somente pela sua mente disciplinada.
Quando falamos em
energia, tratando-se de magia, temos de contemplar as dimensões vibratórias
mais próximas que nos cercam, ou seja, a física, a etérica e a astral. O
pensamento tem poder criador e o que emitimos se movimenta nessas três
dimensões. A partir dessa realidade, nos conscientizamos de quão responsáveis
somos pelo que pensamos. Detalhando melhor: a dimensão física é formada de
energia condensada (matéria); a dimensão etérica tangencia e é contígua à
física e se sustenta pela constante emanação fluídica desta, fazendo parte
dela; e finalmente temos a dimensão astral, da qual a dimensão material (em que
nos encontramos encarnados) é conseqüência, como se fôssemos um gigantesco
mata-borrão.
Salientamos que a
verdadeiramorada planetária é o mundo astral, onde passamos a maior parte de
nossa existência como desencarnados.
Na umbanda, a
movimentação de energias entre essas dimensões se dá pela via mediúnica, não
bastando "apenas" ser um mago sacerdote. São os guias do "lado de
lá" quem conduzem todos os trabalhos e têm o alcance de justiça e outorga
do Astral superior para determinar a amplitude das tarefas realizadas. Por esse
motivo, ficamos bastante receosos com os muitos magos existentes atualmente, e
com a rapidez com que são formados. Somos de opinião que está faltando
mediunidade em muita magia praticada por aí. Preocupa-nos os cursos de formação
coletiva, regiamente pagos, para se obter insígnias sacerdotais de mago disto
ou daquilo, com solenidades grandiosas de entrega de títulos e paramentos
bonitos. Todo o cuidado é pouco quando tratamos com magia cerimonial caritativa
de auxílio ao próximo, pois "aquele que não tem patuá que não se meta com
mandinga", diz-nos sempre a veneranda Vovó Maria Conga, sabedora do efeito
de retorno para todos nós quando interferimos em campos de energias de outras
pessoas, sem autorização para fazê-lo em conformidade com as leis cármicas.
É preciso comentar que
todo médium da umbanda é, em maior ou menor proporção, um mago, mas nem todo
mago é um médium, pois a premissa para se ter uma função sacerdotal na umbanda
é a mediunidade, e não o contrário: dirigentes magos, sem nenhuma mediunidade,
na frente de um congá. Nada temos contra a ênfase mágica sacerdotal e
iniciática de outros cultos, que até podem ser confundidos com a umbanda, em
vários aspectos ritualísticos, pelos olhos leigos da sociedade. Ocorre que não
somos "meros" repetidores de ritual, qual cenógrafos de teatro. Não
sabemos exatamente o que se está fazendo por aí, mas com certeza esse grande
comércio de magia que está virando indústria não é umbanda, aquela umbanda
simples e de pujança mediúnica instituída pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas.
A ênfase iniciática e mágica, meramente pelo efeito ritual externo, vistoso,
decorre da vaidade humana e é um reducionismo da nossa religião, da sua
humildade, simplicidade, e principalmente do mediunismo com as suas entidades,
verdadeiras mantenedoras da força e do axé de nossos congás por este Brasil
afora.
A
importância dos elementos e dos condensadores energéticos:
Ar,
terra, fogo e água, álcool, ervas, fumaça, som; as guias; os pontos riscados; a
pólvora; as oferendas; a água
Os elementos materiais
não são indispensáveis e não devem se tornar bengala psicológica. As vibrações
dos orixás respondem à invocação pela força mental. Obviamente essa resposta varia
de indivíduo para indivíduo. Experiências sacerdotais de vidas passadas
utilizando essas energias fazem parte do inconsciente dos médiuns magistas da
atualidade. Temos de considerar que a aparelhagem fisiológica do médium, quando
vibrada junto com os guias por meio da incorporação, fornece abundantes fluidos
que serão movimentados para a caridade.
Por outro lado, sabemos
que os elementos materiais são importantes condensadores energéticos. Na
prática do terreiro, aprendemos que, em determinados atendimentos, se utilizássemos
só a força mental, os trabalhos ficaram por demais prolongados e muito cansativos.
Outro fato que reforça
essa opinião é que somos naturalmente desconcentrados, ainda mais depois de
duas a três horas de extenuantes passes e consultas, em que nos defrontamos com
as mais inimagináveis mazelas humanas.
Elencaremos a seguir
alguns condensadores energéticos e sua utilização no terreiro:
·
álcool/fogo: transmutação, assepsia e
desintegração de trabalhos de feitiçaria que estão vibrando no Astral.
·
ervas: maceradas liberam prana (axé
vegetal) pelo sumo das plantas; queimadas (fumo, defumação) dispersam seus
princípios químicos no ambiente astro-etéreo-físico.
·
som: atração, concentração ou repulsão
de certas energias.
·
guias: imantação da vibração do orixá
para proteção e descarga do médium.
·
pontos riscados: campos de força
magnéticos de atração, retenção e dispersão, usados junto com os pontos
cantados.
·
pólvora: deslocamento do éter (ar) para
desintegração de campos de forças muito densos.
·
oferendas: agradecimento e reposição de
axé (na umbanda não fazemos oferendas para trocar).
·
água: imantação de uma maneira geral;
descarga fluídica; meio condutor de fluidos que se quer fixar.
Devemos usar os
elementos materiais com parcimônia e sabedoria, pois quando bem utilizados são
valiosas ferramentas de apoio liberadoras de energias para os trabalhos de
caridade, preservando o corpo mediúnico de maiores desgastes.
Os
fundamentos do conga (atrator, condensador, dispersor, expansor, transformador
e alimentador)
O congá é o mais
potente aglutinador de forças dentro do terreiro: é atrator, condensador, escoador,
expansor, transformador e alimentador dos mais diferentes tipos de energias e magnetismo.
Existe um processo de constante renovação de axé que emana do congá, como núcleo
centralizador de todo o trabalho na umbanda. Cada vez que um consulente chega à
sua frente e vibra em fé, amor, gratidão e confiança, renovam-se naturalmente
os planos espiritual e físico, numa junção que sustenta toda a consagração dos
orixás na Terra, na área física do templo.
Vamos
descrever as funções do congá:
·
atrator: atrai os pensamentos que estão
à sua volta num amplo magnetismo de recepção das ondas mentais emitidas. Quanto
mais as imagens e elementos dispostos no altar forem harmoniosos com o orixá
regente do terreiro, mais é intensa essa atração. Congá com excessos de objetos
dispersa suas forças.
·
condensador: condensa as ondas mentais
que se "amontoam" ao seu redor, decorrentes da emanação psíquica dos
presentes: palestras, adoração, consultas etc.
·
escoador: se o consulente ainda tiver
formas-pensamentos negativas, ao chegar na frente do congá, elas serão
descarregadas para a terra, passando por ele (o congá) em potente influxo, como
se fosse um pára-raios.
·
expansor: expande as ondas mentais
positivas dos presentes; associadas aos pensamentos dos guias que as
potencializam, são devolvidas para toda a assistência num processo de fluxo e refluxo
constante.
·
transformador: funciona como uma
verdadeira usina de reciclagem de lixo astral, devolvendo-o para a terra;
·
alimentador: é o sustentador vibratório
de todo o trabalho mediúnico, pois junto dele fixam-se no Astral os mentores
dos trabalhos que não incorporam.
Todo o trabalho na
umbanda gira em torno do congá. A manutenção da disciplina, do silêncio, do
respeito, da hierarquia, do combate à fofoca e aos melindres, deve ser uma
constante dos zeladores (dirigentes). Nada adianta um congá todo enfeitado, com
excelentes materiais, se a harmonia do corpo mediúnico estiver destroçada; é
como tocar um violão com as cordas arrebentadas. Caridade sem disciplina é
perda de tempo. Por isso, para a manutenção da força e do axé de um congá,
devemos sempre ter em mente que ninguém é tão forte como todos juntos.
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